O que é torcida organizada? Entenda o papel das torcidas no futebol

Entenda o que é, qual é a origem, o papel no futebol e polêmicas relacionadas

A festa do futebol é uma das mais lindas no mundo dos esportes. Fora o espetáculo que as equipes entregam em campo, o coração pulsante dos estádios se encontra nas arquibancadas com as torcidas. Muitas pessoas se perguntam: o que é torcida organizada? São elas que cantam, pulam, apoiam e gritam durante o jogo todo, transformando qualquer partida em um verdadeiro caldeirão de emoções. 

Por outro lado, a influência delas vai muito além das quatro linhas. Mesmo com toda a alegria envolvida, estão envolvidas em situações que despertam diferentes opiniões. Para entender a fundo a relevância desses grupos, é preciso voltar um pouco à história e aprender com o passado.

Se interessou em saber mais? Confira neste artigo sobre o que é fato ou mito a respeito de uma das maiores instituições do mundo esportivo! 

A história das torcidas organizadas

Da maneira como são conhecidas hoje, as torcidas organizadas começaram a surgir nas décadas de 1930 e 1940, quando quem acompanhava os campeonatos passou a se reunir de forma estruturada para apoiar seus clubes. Uma das primeiras foi a Charanga Rubro-Negra, fundada em 1942 para incentivar e defender a camisa do Flamengo com músicas e animação.

Depois disso, veio o crescimento, ampliando sua presença no futebol. A partir da década de 1960, chegaram os elementos marcantes, como bandeiras gigantes, camisas personalizadas e cantos específicos. Com o passar do tempo, especialmente nos anos 1970 e 1980, estabeleceram sedes, diretoria e até mesmo leis, confirmando seu status no esporte.

Com o aumento da participação nos estádios e na vida dos times, a maioria desses grupos passaram a exercer pressão sobre dirigentes, demandando maior envolvimento no dia a dia das equipes. Esse processo levou a uma relação mais próxima entre a arquibancada e as instituições, com algumas delas tendo influência direta em decisões institucionais. 

Paralelamente, muitas perceberam o potencial financeiro de sua união e começaram a capitalizar sua força por meio da venda de produtos personalizados, como camisetas, bonés e outros itens, ampliando seu alcance e poder. 

Importância no futebol 

Até hoje são instituições extremamente importantes e reconhecidas no universo futebolístico. São essenciais para incentivar o time em campo, criando uma atmosfera vibrante e muitas vezes impactante para os adversários. 

Outro ponto relevante é a sensação de pertencimento que proporcionam aos seus membros, unindo pessoas em torno de uma mesma paixão e fortalecendo os laços dentro da comunidade. A maioria também realiza ações comunitárias, como arrecadação de alimentos e projetos sociais, mostrando que seu impacto vai além do esporte.

Sem elas, o espetáculo perderia muito do seu brilho. Um exemplo disso foi o período de portões fechados durante a pandemia da Covid em 2020. Por conta das instruções de isolamento social, os compromissos de todas as ligas do mundo ocorreram, por um tempo, sem a presença de pessoas para assistir.

Esse fato ressalta o papel crucial desempenhado pelas arquibancadas como responsáveis pela linda festa do futebol, já que as partidas em estádios cheios  transmitem mais emoção. Por sua capacidade de virar jogos na base da motivação, são conhecidas como a décima segunda jogadora.

Maiores torcidas organizadas do Brasil 

Que o futebol é paixão nacional, todo mundo sabe, e as organizadas desempenham um papel fundamental nessa cultura. São responsáveis por criar a atmosfera vibrante nos estádios, organizar eventos e mobilizar milhares de outras pessoas torcedoras. Entre diferentes tipos e perfis, existem as maiores torcidas organizadas do Brasil.

Uma delas é a Mancha Verde, do Palmeiras. Criada em 1983, é o resultado da união de três grupos da época. O nome faz referência à camisa da equipe paulista e possui cerca de 60 mil membros.

Além dessa, também são destaque: 

Gaviões da Fiel

É disparada a maior organizada do país, com mais de 100 mil membros, além de ser extremamente antiga, fundada em 1969. É conhecida por envolvimento em causas sociais e culturais, como o carnaval de São Paulo, onde desfilam com uma escola de samba própria. 

Força Jovem

Representa o maior grupo de pessoas simpatizantes do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Surgiu em 1970, sendo presenteada com o título do Campeonato Carioca daquele ano. Conta com aproximadamente 30 mil entusiastas. 

Raça Rubro-Negra

Surgiu em 1977, também no Rio de Janeiro, para apoiar o Flamengo em seus jogos. O nome foi uma sugestão do primeiro presidente da torcida, que via a raça como principal característica do grupo. Atualmente, possui pouco mais de 20 mil pessoas torcedoras participando. 

Independente

Fundada em 1972, a torcida Independente representa as cores do São Paulo e também possui uma escola de samba no estado. É uma das mais jovens entre as grandes do Brasil. Aparece com cerca de 50 mil integrantes. 

Galoucura

É uma das torcidas mais animadas e criativas do país e existe desde 1985. É conhecida por mosaicos coloridos e presença marcada em todos os jogos do Atlético Mineiro. Contam com aproximadamente 25 mil participantes. 

Participação política e cultural das torcidas organizadas

As torcidas organizadas exercem uma influência marcante na esfera social, indo além do simples apoio aos clubes esportivos. Atuam como espaços de articulação e expressão, contribuindo para debates da sociedade e manifestações culturais, promovendo o fortalecimento de vínculos e formando comunidades.

No contexto político, esses grupos têm uma trajetória de engajamento em momentos cruciais da história. Durante o período das Diretas Já, por exemplo, muitas se uniram aos movimentos que lutavam por alterações no sistema eleitoral, servindo de instrumentos de batalha por direitos e transformações sociais. Isso revela seu potencial para reunir pessoas em torno de causas.

Dentro do campo esportivo, elas também exercem influência sobre entidades e dirigentes, buscando garantir maior acessibilidade aos estádios. Campanhas por valores mais justos nos bilhetes de entrada são comuns, refletindo uma preocupação em manter o futebol como um espaço inclusivo. 

Essas iniciativas mostram como essa forma de coletivo defende interesses que beneficiam a comunidade, questionando práticas e promovendo a inclusão de setores menos favorecidos. Do ponto de vista cultural, são produtores de manifestações artísticas variadas, como coreografias, músicas, faixas e expressões visuais. 

Por isso, tais criações celebram a paixão pelos times, como também abordam temas relevantes, por exemplo, combate ao preconceito e promoção da diversidade. Além disso, diversas agremiações promovem atividades educativas e de conscientização, reforçando seu papel na sociedade.

Torcidas organizadas são protagonistas na construção de identidades e na defesa de causas. Sua relevância está na habilidade de unir pessoas, influenciar diálogos e promover mudanças, se consolidando um dos pilares importantes no dia a dia. 

Violência entre torcidas organizadas

É de conhecimento geral o papel que as torcidas desempenham, trazendo paixão, identidade e apoio incondicional aos times. No entanto, a violência gerada por algumas delas já levantou debates e até a intenção de acabar com esses grupos. 

Apesar dos aspectos positivos, como a organização de eventos, o incentivo aos clubes e a criação de uma atmosfera única nos estádios, os episódios de agressão entre elas rivalizaram com o espetáculo esportivo, colocando em risco a segurança de qualquer pessoa envolvida.

Para minimizar esse impacto, foram necessárias medidas específicas. Um exemplo são as regras implementadas durante o carnaval, onde escolas de torcidas organizadas são proibidas de desfilar no mesmo dia, a fim de prevenir confrontos. 

Além disso, em dias de jogos, há um esquema especial de policiamento para garantir que quem torce em equipes adversárias se mantenha distante. Essas ações buscam preservar a integridade física das pessoas e manter o foco no esporte.

Quando episódios assim tomam conta, o jogo perde seu sentido. O futebol, que deveria ser uma celebração de talento, superação e união, acaba sendo atrapalhado por atos bárbaros. Por isso, é essencial que haja um esforço da comunidade visando acabar com a violência, punir os responsáveis e promover uma cultura de paz e respeito dentro e fora dos estádios. 

Violência contra jogadores

Os confrontos entre organizadas são conhecidos. No entanto, a violência vai além disso. Há casos em que pessoas jogadoras, árbitras e até mesmo torcedoras têm sido alvos de agressões, seja dentro ou fora dos estádios. Isso mancha a imagem do futebol, como também afasta famílias e quem busca um ambiente seguro para aproveitar o evento.

Um dos mais recentes foi em 2023. Enquanto o time do Bahia se dirigia para a Arena Fonte Nova, o ônibus foi atacado com uma bomba, ferindo gravemente o goleiro Danilo Fernandes com um corte profundo próximo aos olhos. Os jogadores Matheus Bahia e Marcelo Cirino também ficaram de fora da partida após serem atingidos por estilhaços. 

Outros exemplos conhecidos são:

Invasão ao centro de treinamento do Sporting

Em 2018, o Sporting passou por um período complicado, o que gerou a reação furiosa de 50 pessoas torcedoras. Na ocasião, invadiram o centro de treinamento do clube e agrediram atletas, participantes da comissão técnica e até mesmo o presidente Bruno de Carvalho.

O caso ficou famoso em Portugal e rendeu prejuízos esportivos para a equipe. Alguns nomes como William Carvalho, Rui Patrício, Acuña e Battaglia, além do treinador Jorge Jesus decidiram encerrar seus contratos com a instituição, alegando justa causa devido ao clima de insegurança.

Invasão de campo

Depois de ser rebaixado no campeonato paranaense de 2023, em derrota para o União, a equipe do Paraná viu os seus fãs perderem a cabeça. Após o apito final, os torcedores, furiosos com o resultado, invadiram o gramado do estádio e tentaram agredir os jogadores e membros da comissão técnica. 

Ataque ao ônibus do Grêmio

Dois dias após o acontecimento na Bahia, o ônibus do Grêmio também foi atingido por objetos vindos da torcida do Internacional antes do famoso clássico GreNal. O atleta Matías Villasanti foi golpeado na cabeça e teve concussão cerebral e traumatismo craniano, sendo liberado no dia seguinte. O episódio ocasionou no adiamento da partida. 

Agressão contra Vágner Love

Uma das grandes figuras do futebol brasileiro, Vágner Love foi agredido em 2009 ao sair de um banco. Três pessoas chegaram a rasgar sua camisa. Na época, o Palmeiras havia ficado de fora da Libertadores, ocasionando a reação extrema por parte da torcida. 

Torcidas segmentadas

Embora as grandes organizadas sejam uma parte marcante da cultura esportiva, nem todas as pessoas se identificam ou desejam participar desses grupos. 

Muitas preferem torcer de maneira mais independente ou em pequenos agrupamentos. Entre os motivos, está o receio da violência associada a algumas ou por se sentirem sem representação nesses coletivos maiores. Essa realidade tem dado origem a um movimento crescente: as torcidas segmentadas.

São basicamente organizações menores e específicas, formadas por quem compartilha interesses, valores ou perfis parecidos. Elas surgem como uma alternativa às tradicionais, oferecendo um espaço íntimo e personalizado para vibrar pelos times sem se preocupar. 

Algumas dessas formações aparecem como resposta para lacunas deixadas pelas organizadas. Geralmente, são definidas por gênero, idade, jeito de torcer ou identidade cultural e social, como grupos LBGTQIA. A grande maioria que ama futebol opta por ambientes mais tranquilos, buscando uma experiência segura, longe de situações de risco.

Impacto nas arquibancadas

O impacto das torcidas segmentadas no futebol e na cultura esportiva é grande e abraça várias áreas. Esses grupos, que surgem como uma alternativa às organizadas tradicionais, trazem mudanças positivas e desafios que refletem a evolução da sociedade e do próprio entendimento do esporte. 

Suas ações promovem a inclusão de pessoas que por muitas vezes ficam de fora das arquibancadas, como mulheres, homossexuais e famílias. Alguns exemplos são os coletivos Manas do Galo, Família Tricolor e Coligay, que representam a camisa do Corinthians.

Inclusive, um dos principais motivos para o aparecimento desses núcleos é o receio da violência associada a algumas torcidas comuns. Isso cria ambientes mais seguros que priorizam o respeito acima de tudo, contribuindo para uma mudança de mentalidade e mostrando que é possível torcer de forma apaixonada e sem briga. 

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Torcer é demonstrar o amor pela sua equipe do coração. Nos estádios, nada mais bonito do que a festa vinda das arquibancadas. Para quem ainda quer conhecer melhor esse universo, vale a pena conferir outras duas matérias interessantes: Como a cultura do futebol influencia o Brasil? e A evolução das torcidas organizadas: de movimentos de apoio à profissionalização.