Como a cultura do futebol influencia o Brasil?

Quem nasce no Brasil já nasce rodeado pela cultura do futebol. Entre as roupinhas do enxoval de um bebê que ainda está na barriga da mãe, por exemplo, não é raro encontrar peças do time do coração dos pais. Então, conforme a criança cresce, surgem as perguntas sobre qual foi o time escolhido para torcer. […]

Quem nasce no Brasil já nasce rodeado pela cultura do futebol. Entre as roupinhas do enxoval de um bebê que ainda está na barriga da mãe, por exemplo, não é raro encontrar peças do time do coração dos pais.

Então, conforme a criança cresce, surgem as perguntas sobre qual foi o time escolhido para torcer. As primeiras brincadeiras costumam envolver chutar uma bola, as partidas fazem parte das aulas de educação física na escola e dos momentos de lazer com os amigos e parentes.

Assim, a modalidade sempre está por perto, dentro da rotina. Desde os jogos disputados com os pés descalços na rua, até as horas passadas em frente à televisão, com os olhos vidrados nos grandes campeonatos mundiais.

Ao mesmo tempo, o futebol é um negócio sério. As partidas e campeonatos profissionais exigem disciplina, envolvem patrocinadores e movimentam muito dinheiro, entre vendas, eventos e contratações. Tudo isso ao mesmo tempo em que mexem com os sentimentos, humor e paixões de pessoas do país todo.

Assim, a influência do esporte não termina junto dos 90 minutos mais acréscimos e não se limite às quatro linhas do gramado. É sobre a importância da modalidade que eu vou falar nos próximos parágrafos. 

Como começou a história do futebol no Brasil?

O esporte nasceu na Inglaterra em 1863. Por aqui, a explicação mais aceita é que o jogo chegou através do brasileiro de origem inglesa Charles Miller, em 1894. 

Após estudar no exterior, ele voltou para cá e trouxe na mala itens como duas bolas usadas, camisas, um par de chuteiras e um livro de regras. O pioneiro participou da fundação da Liga Paulista de Futebol, a primeira do país.

A prática cresceu ao ponto de equipes de remo, que até então era o esporte dono de maior relevância localmente, se tornarem times de futebol, como Flamengo, Botafogo e Vasco. Mais do que isso, a trajetória da atividade ao longo das décadas se conecta intimamente com a história do Brasil.

Popularização e conexão com a história do país

A popularização começou na primeira década do século 20. O esporte deixava de ser exclusividade da elite e passava a incluir outras parcelas da população, como quem trabalhava em fábricas. Assim, surgiram times como o Bangu, do Rio de Janeiro, e o Juventus, de São Paulo.

Com o desenvolvimento industrial e a chegada de mão de obra estrangeira, isso se acentuou. Principalmente nas décadas de 1920 e 1930.

Um fato marcante para a popularização da modalidade foi a aceitação de jogadores negros nos times. Antes disso, eles eram formados apenas por membros da elite e, mais tarde, também por operários brancos.

A profissão de jogador de futebol foi oficializada em 1933, com a criação das Ligas Profissionais nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. No mesmo ano, houve a disputa do primeiro campeonato profissional, vencido pelo então Palestra Itália, hoje Palmeiras.

A profissionalização da prática permitiu o surgimento de ídolos como Leônidas da Silva, o Diamante Negro, e Domingos da Guia, com os quais a população se identificava. Da mesma forma, surgiam estádios de multidões, como o São Januário e o Pacaembu.

A Copa de 1938 marcou a primeira grande campanha do Brasil: a Seleção ficou em terceiro lugar no torneio disputado na França.

Futebol feminino

Em 1921, a imprensa local registrou a primeira partida com mulheres em campo, que ocorreu em São Paulo, no bairro do Tremembé. A partir dos anos 1940, houve a fundação de clubes de futebol feminino, como Cassino Realengo, o S. C. Brasileiro e o Eva Futebol Club, todos do Rio de Janeiro.

Ainda que existissem orientações quanto à proibição da prática, vindas do Governo Getúlio Vargas, a realização de jogos era noticiada. Porém, na época da Ditadura Militar, entre 1964 a 1985, a modalidade foi vetada. Apenas em 1979, devido a uma deliberação do Conselho Nacional dos Desportos, o CND, elas retomaram o seu direito de jogar bola.

Durante os anos de 1980, mesmo sem o reconhecimento da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, times femininos já representaram o Brasil. Até que, em 1991, foi disputado na China o primeiro campeonato mundial com convocação da entidade, surgindo assim a Seleção Feminina.

Qual a importância cultural do futebol para o brasileiro?

Mesmo quem não tem o esporte como o seu lazer favorito vive a cultura do futebol. Afinal, nos churrascos, almoços de família ou encontros entre amigos sempre há alguém para ligar a televisão no jogo da rodada. Sem contar as partidas do dia anterior, que geralmente é o assunto do dia no trabalho, faculdade, escola ou na padaria.

Em época de Copa do Mundo, isso se intensifica, já que os olhos do mundo inteiro se voltam para a competição, especialmente nos dias em que o Brasil está em campo. As pessoas se deliciam com as disputas de cada país. Mas até quem não acompanha as partidas o ano todo entra na festa e torce como se não houvesse amanhã.

Assim, a atividade funciona como um ponto de encontro, algo que une as pessoas, ao redor do qual muitos se juntam. Diversas amizades são feitas e cultivadas nos bares que transmitem os campeonatos ou em estádios. 

Sem contar os momentos compartilhados diante de um jogo que passa na televisão que se tornam parte da memória afetiva de muitas famílias. A modalidade consegue agregar pessoas de diferentes idades e contextos, que talvez não estariam conectadas se não fosse a paixão em comum pelo futebol.

Com isso, o esporte é uma forma de entretenimento para o brasileiro. É uma maneira de dar uma pequena pausa da realidade e dos problemas e se divertir jogando ou acompanhando o seu time favorito em campo.

Música e moda

Referências ao futebol também estão presentes em canções famosas no país. Os exemplos incluem É Uma Partida de Futebol, de Samuel Rosa e Nando Reis, Fio ou Filho Maravilha, de Jorge Ben Jor, e Sou Ronaldo, de Marcelo D2 e Bruno Merti.

A relação entre a música e a modalidade também está presente nos gritos de torcida, que usam trechos de faixas populares como base para entoar cantos aos seus times. Entre elas, é possível citar a versão de Ana Júlia, dos Los Hermanos, que fãs do Vasco já usaram.

Por sua vez, os corintianos utilizaram Não Quero Dinheiro do Tim Maia como inspiração para os seus gritos de apoio ao time paulista. Já os flamenguistas adotaram Primeiros Erros, do Capital Inicial, para lembrar o seu título mundial.

O esporte também respinga nas escolhas de moda do brasileiro. Afinal, as camisas de time masculino e feminino não são usadas apenas para ir ao estádio, torcer em casa ou jogar bola. Elas também são utilizadas como parte de looks em ocasiões informais do dia a dia.

Reflexo do país

Ao mesmo tempo, o que se vê nas quatro linhas e nas arquibancadas é um reflexo da diversidade, mistura de culturas e comportamentos em comum do brasileiro. 

Os jogadores brasileiros são conhecidos não somente pela sua habilidade técnica, mas também pela sua criatividade e ginga. Da mesma forma, é possível encontrar em meio à torcida a alegria, irreverência e paixão associadas ao país.

Quais as principais tradições do futebol no Brasil?

Como parte da cultura brasileira, o futebol está presente em diversas tradições no país. Isso passa pelas crianças que jogam bola descalças na rua e demarcam a trave com os chinelos. 

Entretanto, também envolve os adultos que não perdem a pelada semanal, as partidas entre times de pessoas solteiras e casadas e campeonatos amadores por todo o Brasil. Nem mesmo os encontros religiosos em chácaras escapam de testemunhar partidas.

As tradições futebolísticas não envolvem apenas quem pratica a modalidade. Elas também estão presentes na socialização entre parentes e amigos, que se reúnem para assistir aos jogos. Os encontros podem acontecer em bares ou na casa de alguém e ser acompanhadas de cerveja e petiscos.

Em período de Copa do Mundo, esses momentos se tornam ainda mais comuns e, além das reuniões, algumas pessoas se juntam para decorar e pintar as ruas de verde e amarelo.

Quais são as principais torcidas de futebol no Brasil?

O Flamengo costuma ser apontado como a primeira entre as maiores torcidas do Brasil. Agora, é fácil encontrar alguém com a camisa do Corinthians na rua, afinal, o clube também se destaca. Na sequência de importância no país aparecem clubes como São Paulo, Palmeiras e Vasco.

O grande público do futebol não se resume a quem vai religiosamente ao estádio toda semana. Ele também inclui quem acompanha o time do coração de outros estados e até países, consumindo não apenas jogos e notícias, mas também produtos.

E muita gente adora colecionar itens que reflitam a sua torcida pelos clubes. Esses itens vão além das camisas e outras roupas e incluem uma infinidade de produtos licenciados, como tênis, canecas, copos, toalhas, bolas, cestos, garrafas e almofadas. Essa movimentação evidencia que além do fator cultural e de entretenimento, a modalidade tem o seu peso econômico.

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